domingo, 18 de outubro de 2009

Livre

Outro membro. Ansiosa, abocanhou, sedenta pelo sabor da liberdade. Não era muito diferente de antes. Talvez fosse pior. O cheiro mais forte, uma deformidade na base da cabeça – ela se lembrou do primeiro. Não era hora de pensar nisso. O cacete em si não era a questão, mas como ele seria usado.

A penetração não doeu. Não sentiu aquele ardor agradável. Já estava muito excitada para isso, e as repetidas entradas que se seguiram a surpreenderam apenas porque eram normais, sem nada de diferente, talvez o novo.

Fez posições que, apesar de não estar acostumada, não eram inéditas. Boca, língua, bolas, bunda, dedos – tudo novo, mas uma sensação de mesmo, vazio.

Depois, deitada ao lado do sujeito apaixonado, recordou toda uma vida em que realizara aquele ato, com constância e ardor, sempre ansiosa por mais. Um tempo em que a única preocupação era esperar a próxima situação propícia ou que o pinto amado se levantasse, pronto novamente para adentrá-la. Ainda poderia ter muito sexo. Aliás, era melhor que antes - tinha para si todos os caralhos do mundo.

Apesar de tudo, lembrou-se dele até seu último dia trepando.

4 comentários:

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  2. Gostei! Só fiquei com uma questão em relação a essa frase "a surpreenderam apenas porque eram normais, sem nada de diferente, talvez o novo".
    Como algo surpreenderá se é da ordem da normalidade do personagem? Pensei que ela pudesse estar surpresa porque ela novamente encontrou aquilo que ela já conhece, do tipo, é a enesima vez que faço isso e pela enesima vez a mesma coisa, como se fosse um ato de surpresa. Porem nao consigo ver nesse tipo de conclusão em um sentimento que pede doses de curiosidade, de intensa descoberta, principalmente porque ela cai em contradição ao dizer que nada está diferente, só o novo, mas que novo? Se ela se presta a se repetir. É uma personagem obsessiva naquilo que ela faz, algo a prende nessa repetição, o que? Não quero que vc me responda, sinto que o texto funciona sozinho, do jeito que ele está. Por isso gostei, eu consigo entende-la bem, só fiquei agarrado na frase que mencionei aqui. De resto, dentro da neurose dela, ela é absolutamente coerente, sincera. Ela se faz interessante.

    ... ou será que ela se surpreende por que ela se repete, isso a assusta? Talvez isso, essa questão, possa lhe ajudar a dar alguns retoques nessa construção, se assim lhe parecer necessário.

    Gustavo

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  3. Na verdade tive que ler duas vezes pra entender tudo, é que acho interessante a forma como as pessoas escrevem, via de regra até os grandes escritores funcionam assim. Todos nós. As coisas fluem dentro de nós e simplesmente queremos contar, da mesma maneira que aquilo nos atravessa... então vc começa com a palavra "membro" que pode ser um monte de coisas, inclusive aquilo que é para o conto. Acontece que vou lendo, vou lendo e deixo de associar essa palavra com "pau". Claro que não preciso voltar a isso, não é necessário fazer essa associação, não irá causar perda de compreensão; acontece que se eu associar (algo que penso no meu processo de leitura) cada palavra que tem na hora àquilo que é da atmosfera da personagem, a probabilidade de compreender será maior. digo, os simbolos e sentidos...

    (escrevi isso rapido, nao sei se faz sentido)

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  4. Não é exatamente o tipo de conto sexual que vemos em revistas do genero, mas com certeza fala do sexo de uma forma inedita, romanticamente pevertido.

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